Pela
primeira vez em décadas, o Brasil duvidou da eficiência de seu processo
eleitoral. E com razão, porque durante horas a apuração parecia parada. De nada
adiantou a explicação oficial de que estava tudo sob controle, se os resultados
não apareciam. É como ver 90 minutos de futebol e, ao fim, não saber o
resultado.
Há
quem diga que o atraso na divulgação dos resultados se origina em gestão
passada, quando se decidiu centralizar o processo em Brasília. Tal arranjo
teria diminuído os custos do sistema, mas vai contra boas práticas de sistemas
de informação – e aqui falo como velho professor de engenharia de software.
Pior ainda se tal solução centralizadora estivesse sujeita a pontos singulares
de falha, de 100% de suas partes funcionando para a contabilidade e divulgação
com a velocidade usual. Mas foi essa a explicação dada, deixando muitos
incrédulos – até porque o histórico de eficiência do sistema eleitoral
brasileiro é muito grande.
Como
se não bastasse, isso ocorreu em um contexto em que dados capturados numa
invasão ao TSE, aparentemente há algum tempo, foram
liberados na web, aliados a uma campanha de ataques de negação de serviço que
afetou facetas digitais do Tribunal. Parece uma campanha articulada de
descrédito do sistema eleitoral. Além disso, houve falhas no sistema de título de eleitor digital para
justificar a ausência das urnas –e a justificativa foi de que
muitas pessoas estavam tentando usar o app, como se não houvesse uma previsão
sobre isso. É de espantar.
Há
muita coisa para se investigar: de quem invadiu as propriedades digitais do TSE
até entender se isso estava articulado com a ideia de desacreditar o processo
democrático digital. Além dessas (e várias outras perguntas), será que não há
uma demanda para revisar a plataforma eleitoral, que ontem funcionou de forma
tão diferente do normal? Não seria muito melhor se o sistema digital do qual a
eleição depende fosse mais transparente, como muitos vêm arguindo há décadas?
O
TSE é uma operação vertical: define regula, desenha, constrói, opera os
sistemas que realizam o processo eleitoral e, se houver alguma dúvida ou
conflito… é só recorrer ao TSE. O Tribunal estaria melhor se houvesse separação
entre quem realiza os processos eleitorais e quem os define, avalia e resolve
dúvidas e pendências. Fosse assim, o TSE não teria de ter feito tudo isso no
domingo.
Ainda
bem que, pelo que sabemos, não foi algo que afetou as escolhas dos eleitores.
Mas poderia ter sido. Contra teorias conspiratórias, horizontalidade, abertura
e transparência são vacinas para evitar que boatos não vençam os fatos. A
plataforma digital do sistema eleitoral brasileiro pode vir a ser a melhor do
mundo; mas há lição de casa a fazer.
Por Silvio Meira
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